Segunda-feira, 2005-09-19 22:09:13
Começámos hoje a aplicar o nosso plano de intensificação da actividade médica da AMI no distrito de Caué. O Dr. Ricardo Leitão ficou a assegurar a actividade médica no hospital de Angolares e a tratar de assuntos relativos à logística da missão, enquanto eu e o Dr. Stepan Harbuz partimos para Porto Alegre. Esta povoação localizada no extremo sul da ilha de S. Tomé, tem o melhor e mais bem equipado Posto Comunitário de Saúde do distrito. Há um enfermeiro sempre presente, alguns medicamentos, três gabinetes de consulta, algumas camas, água corrente e instalação eléctrica (não há electricidade durante o dia porque o resto do distrito também não a tem). Existe ainda uma marquesa e material de ginecologia, pelo que é para aqui que enviamos as doentes de Vila Malanza, Ilhéu das Rôlas e Monte Mário para serem observadas. A partir de hoje passámos a fazer consultas em Porto Alegre duas vezes por semana, decisão que se justifica não só pelas condições do posto, como pelo número de doentes (12 doentes na 5ª-feira passada e 18 hoje).
Antes de partirmos de Angolares, carregámos alguns caixotes de roupa e calçado para que o enfermeiro responsável pelo posto de Porto Alegre os possa distribuir à população. Levámos também duas bolas de futebol para dar às crianças e algumas caixas de preservativos para distribuir e utilizar na acção de educação sexual que tínhamos planeado para hoje.
Um dos casos que mais me impressionou hoje foi o de uma menina de um ano e meio que, desde há quase seis meses vem recorrentemente à consulta com os mesmos problemas: parasitose intestinal e dermatite fúngica. Ambas as doenças resultam das péssimas condições de higiene da generalidade da população. Apesar dos sucessivos tratamentos, as condições para que as doenças surjam mantêm-se e hoje não foi excepção.
Quando terminámos as consultas dirigimo-nos para a escola primária, onde se reuniu um grupo de cerca de 40 jovens entre os 13 e os 35 anos para uma sessão sobre educação sexual e SIDA. Coube-me a mim dinamizar a sessão, falando-lhes sobre algumas doenças sexuais, comportamentos de risco e utilização do preservativo. Consegui que se criasse interactividade entre mim e os jovens, o que facilitou imenso a transmissão da mensagem. Além disso, colocaram-me várias perguntas pertinentes, que mostravam algum conhecimento dos assuntos. No final distribuímos alguns preservativos e aconselhámos os presentes a dirigirem-se ao Posto Comunitário de Saúde sempre que se quiserem aconselhar sobre saúde reprodutiva.
Terminada a actividade clínica do dia, aproveitámos para ir refrescar até à praia Piscina (muito perto de Porto Alegre). Depois de uns mergulhos na piscina natural, observar alguns peixes com óculos de mergulho e ler um pouco, as baterias ficaram plenamente recarregadas para mais uma semana de trabalho. Só falta mesmo aprender a pescar em apneia para que os dias na praia Piscina sejam perfeitos.
Quando chegámos a casa descobri porque não temos tido acesso à internet. Depois de algumas transferências e reencaminhamentos, o Dr. Ricardo Leitão tinha conseguido contactar o apoio técnico das Comunicações de S. Tomé. O problema era simples de resolver: tinham mudado o número telefónico de acesso, mas esqueceram-se de avisar os clientes! É preciso levar a vida, como se diz em Angolar, “leve leve”.
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