Quarta-feira, 2005-09-28 23:09:58

Hoje foi um dia especial, não pela chuva (que continua a cair impiedosamente) ou pelo trabalho que desenvolvemos (que se mantém), mas porque tivemos a visita do Ministro da Saúde de S. Tomé e Príncipe. O Ministro (pediatra de formação) está a realizar uma série de visitas aos vários distritos, para tomar contacto pessoal com os problemas na área de saúde. Hoje foi a vez de Caué. Mas a visita do Ministro ao hospital de Angolares só aconteceu ao final da manhã. Antes disso ainda tivemos tempo de fazer as consultas habituais.
Com a visita oficial, não havia muitos doentes, vi apenas quatro pessoas. Há um caso a destacar: uma mulher de 37 anos que foi enviada pela polícia. Esta senhora tinha sido agredida pelo marido e apresentava um extenso hematoma no olho esquerdo (que a impedia de abrir o olho) e dores nas costas (o outro local onde o marido lhe tinha batido). Mediquei a senhora e escrevi o relatório para enviar às autoridades. Como se tinham acabado as pilhas da máquina fotográfica, propus-lhe que passasse pela casa da AMI ao final da tarde, para que lhe pudesse tirar fotografias das lesões (que poderia depois usar como prova em tribunal). Apesar de se ter mostrado interessada, não chegou a aparecer na casa da AMI. Como já tinha escrito anteriormente, a violência doméstica é um problema recorrente, mas, enquanto não melhorarem as condições de vida e não existir uma mudança da mentalidade, pouco podemos fazer para combater as suas raízes.
Ao final da manhã chegou o Ministro da Saúde, que visitou o hospital e ouviu as queixas de todo o pessoal. É verdade que o hospital tem pouquíssimos meios, mas os recursos do país são escassos e neste momento a margem de manobra é ainda menor já que há um controlo apertado da despesa por parte Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial com o objectivo de perdoar a dívida externa de S. Tomé e Príncipe.
Durante a tarde foi mais uma vez altura de nos dedicarmos à elaboração do relatório mensal. Resumir um mês de actividade não é tarefa fácil, considerando a grande quantidade de actividades que temos levado a cabo. Há ainda que fazer a estatística dos doentes vistos e preparar o relatório de contas. Ainda por cima não temos electricidade durante a maior parte do dia e as baterias dos portáteis não são eternas. É um trabalho chato, mas que precisa de ser feito e que nos deve ocupar os próximos dias.
Amanhã e sexta-feira não vamos fazer os Postos Comunitários. O delegado de saúde, o Dr. Américo, já está com saudades de “ir para o terreno”, de modo que ficamos nós a assegurar o funcionamento do hospital.