Quinta-feira, 2005-10-06 22:10:46
Durante a noite o menino que estava com dificuldade respiratória manteve-se mais ou menos estável. Foi visto algumas horas depois de o termos deixado pelo Dr. Américo (o Delegado de Saúde), que o viu novamente antes das oito da manhã. Quando passámos pelo hospital às oito, o menino continuava com alguma dificuldade em respirar, mas menos que na noite de ontem. O Dr. Américo voltaria ao hospital dentro de momentos e nós partimos para fazer consulta nos postos comunitários.
A manhã até estava agradável em Angolares, mas a chuva apanhou-nos pouco depois (um bocadinho antes Monte Mário) e já não nos largou durante o resto do dia. Ainda assim, conseguiam-se atravessar ambas as pontes provisórias sem qualquer problema. Em Porto Alegre vimos doze doentes. Continua a notar-se uma maior quantidade de casos de infecções respiratórias e paludismo devido às chuvas, especialmente nas crianças. Porque as pessoas andam mal vestidas, descalças e vivem em casas com poucas condições, estas doenças encontram terreno propício para se desenvolver. Em Vila Malanza tínhamos sete pessoas à espera, principalmente casos de parasitose intestinal e dores articulares. Seguimos para Ponta Baleia mesmo a tempo de apanhar o barco do meio-dia para o Ilhéu das Rôlas. A viagem de hoje foi diferente do habitual: feita à chuva e com o mar algo agitado. Apesar de o barco ter um pequeno compartimento por baixo da cabina, preferi enfrentar a chuva a enjoar. O impermeável ajuda bastante, mas não evitou que ficasse um pouco molhado. No ilhéu fizemos mais sete consultas, destacando-se novamente os casos de infecções respiratórias e paludismo. A viagem de regresso fez-se com ainda mais chuva, mas mantive a minha opção de não descer para o compartimento abrigado. É que a roupa seca muda-se, um estômago enjoado não.
Com toda a chuva que tinha caído desde a manhã, estávamos algo apreensivos quanto à possibilidade de travessia dos dois rios em que as pontes estão quebradas. Por brincadeira dizíamos que, mal por mal, teria sido melhor termos ficado presos no Ilhéu das Rôlas (onde há um hotel de quatro estrelas) do que a meio caminho entre Porto Alegre e Angoalres. Na primeira travessia, a água quase chegava ao nível da ponte provisória, mas a passagem era fácil. Na segunda, a água já tinha galgado a ponte. Parámos o jipe e fomos verificar o nível da água. Era de trinta a quarenta centímetros, pelo que não chegava à altura do tubo de escape do jipe (se o tubo de escape de um carro ficar debaixo de água o motor pára), o que nos permitia atravessar.
À chegada a Angolares esperava-nos uma má notícia. O menino da pneumonia tinha falecido durante a tarde. Todas as mortes são difíceis, mas as que resultam da falta de meios são-no ainda mais.
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