Sexta-feira, 2005-10-07 21:10:22
O dia de hoje trouxe pouco trabalho. No posto de Iô Grande fizemos apenas quatro consultas e em Dona Augusta oito. A povoação de Iô Grande é provavelmente a mais pobre das que visitamos. Mesmo o nosso motorista pode atestar a desnutrição da maior parte das pessoas: Em Iô Grande as pessoas são muito pobres, comem só fruta-pão e depois ficam com uma barriga muito grande, mas é só água. Numa frase, resume uma doença chamada kwashiorkor, que resulta de uma carência alimentar de proteínas. As pessoas de Iô Grande não têm kwashiorkor, mas um défice proteico mais ligeiro que, de qualquer forma, é o suficiente para provocar o aumento de volume da barriga. Não só em Iô Grande, mas em todo o distrito de Caué, é frequente encontrarmos crianças com este tipo de carência alimentar, basta olhar para elas para fazer o diagnóstico. O tratamento não é coisa fácil, o problema não se resolve com comprimidos, mas com comida: carne e peixe. No entanto, para quem tem pouco dinheiro, muitas vezes a alimentação faz-se à base do que se consegue colher: fruta-pão, cocos, bananas, cana-de-açúcar e pouco mais. Apesar de vermos muitos animais pelas ruas (porcos, galinhas, cabras, etc.) e de existir bastante peixe, estas proteínas são inacessíveis à faixa mais pobre da população.
Em Dona Augusta vimos um caso interessante. Era um homem de 30 anos que se tinha ferido com a catana ao descascar cocos há uma semana. Nessa altura foi ao hospital, onde lhe suturaram uma ferida na perna. Hoje vinha à consulta com o pé e a perna em muito mau estado. À semelhança do caso do senhor V. que relatei há algumas semanas, a ferida tinha infectado por falta de cuidados de higiene. As pessoas não podem parar de trabalhar (não há segurança social para lhes pagar quando estão doentes) e com toda a chuva e lama é muito fácil infectar uma ferida que estava limpa. No entanto, este caso era bem mais grave que o do senhor V. Todo o terço inferior da perna e do pé apresentavam sinais de infecção. Explicámos ao senhor que tinha de ir para o hospital de Angolares, onde seria internado e faria o tratamento adequado. Contudo ele recusava o internamento. Foi preciso assustá-lo um pouco contando-lhe toda a verdade: se não fizesse o tratamento que recomendávamos a perna iria dentro em breve gangrenar e depois teria de ser amputada. Com a ajuda de alguns familiares lá o convencemos e trouxemo-lo connosco até ao hospital.
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