Sábado, 2005-10-08 23:10:04
O dia de hoje começou com um acontecimento inesperado: o nosso motorista não apareceu à hora marcada. Depois de termos aguardado um pouco, pedimos à nossa empregada doméstica (a Dona Antónia) que mandasse o motorista ter ao connosco e foi o próprio Dr. Stepan Harbuz quem conduziu até ao hospital de Angoalres. Começámos a visita como é habitual pela enfermaria de mulheres e crianças, onde estavam internados apenas cinco doentes: três casos de infecções respiratórias, uma criança com suspeita de malária e outra com diarreia. Quando íamos passar para a secção de homens, o enfermeiro disse-nos que não havia mais doentes internados. Era muito estranho. Então e o homem com a ferida da perna infectada que tínhamos evacuado ontem de Dona Augusta? A resposta deixou-nos perplexos: fugiu do hospital. Ao que nos contaram, existiam fortes suspeitas de que este homem fosse procurado pela polícia por crimes cometidos na capital. Estaria a refugiar-se nas povoações mais remotas (Caué é o maior e mais pobre distrito do país) para evitar ser capturado pelas autoridades. A sua recusa inicial em vir para o hospital e subsequente fuga deviam-se ao medo de ser identificado e preso pela polícia de Angolares. Foi uma opção bastante arriscada, já que é provável que a ferida, sem o tratamento apropriado, progrida para gangrena da perna. Nessa altura, ou recorre a tratamento médico ou morrerá certamente da infecção.
Quando regressámos a casa continuava a não haver sinal do motorista. Pedimos à Dona Antónia que fosse a casa deste para saber o que se passava, mas achou-a vazia e sem respostas. Alguns vizinhos tê-lo-ão visto sair de Angolares na noite de ontem e presumiam que ainda não tinha voltado. Esta é uma das dificuldades com que nos debatemos habitualmente, é muito frequente um trabalhador faltar e não dar qualquer justificação ou sequer avisar o empregador. A ausência de motorista veio-nos alterar os planos para o resto do dia. Contávamos ir à capital fazer compras e algumas reparações no jipe. No entanto, sem roda suplente (tivemos um furo ontem e o motorista deveria ter ido hoje buscar o pneu reparado) não arriscámos fazer a viagem. Ainda temos alimentos para mais alguns dias e temos de ir à capital de qualquer maneira na próxima quarta-feira para tratar da renovação dos vistos. Optámos então por ir até à praia Micondô, a cerca de dez minutos de carro. Apesar do dia ter começado com chuva, a meio da manhã o sol começou a brilhar e expulsou todas as nuvens. No entanto, o mau tempo dos últimos dias ainda se reflectia no estado do mar, que não permitia grandes aventuras.
Voltámos da praia por volta da uma da tarde e almoçámos peixe fumo. Entretanto regressou o Dr. Ricardo Leitão da capital (onde tinha estado a renovar o seu visto). Durante a tarde estivemos a ultimar os relatórios de missão e a fazer a passagem de testemunho dos aspectos logísticos, já que o Dr. Ricardo volta para Portugal este Domingo.
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