Missão S. Tomé e Príncipe - Diário de Viagem, por Daniel Pinto
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Sexta-feira, 2005-10-14 22:10:34

Continuamos a distribuição de bens (roupa, calçado e brinquedos) à população do distrito de Caué. Hoje foi a vez das povoações de Iô Grande e Dona Augusta. Depois de carregados os jipes o Dr. Stepan Harbuz seguiu para estes dois Postos Comunitários, onde fez as consultas e a distribuição de bens. Eu fiquei no hospital para fazer uma acção de formação sobre Hipertensão Arterial aos enfermeiros.
Ainda antes de começar a sessão chamaram-me para ver uma doente internada que já não tinha dejecções há quatro dias. Estava internada por dor abdominal, com um diagnóstico provisório de úlcera péptica ou gastrite. A observação da doente não me deixou nada tranquilo: havia defesa (contracção dos músculos) à palpação abdominal, o que é um sinal de que algo não está bem dentro do abdómen. Como precaução coloquei a doente sem comer (uma vez que não tinha dejecções, poderia ter uma situação designada por oclusão intestinal e se continuasse a comer arriscava o aparecimento de vómitos), prescrevi um anti-ácido (considerando poder tratar-se de uma úlcera) e um medicamento para estimular as dejecções. Disse ainda ao enfermeiro que me chamasse se houvesse um agravamento do estado da doente.
A acção de formação foi mais uma vez muito gratificante, os enfermeiros continuam a mostrar grande empenho e ânsia de aprender. Já me encomendaram nova sessão, desta vez sobre diabetes.
Quando me preparava para regressar a casa fui chamado para fazer consultas de urgência. Apesar de não fazermos habitualmente consultas no hospital à sexta-feira, hoje o Dr. Américo Pinto (o médico local) tinha ido ao Ministério da Saúde na capital, pelo que não havia médico. Acedi prontamente. Dois dos casos merecem destaque. O primeiro de uma menina de quatro anos com vómitos e diarreia há dois dias. Pareceu-me uma vulgar gastroenterite, pelo que a mantive no hospital durante algumas horas apenas a fazer água e chá com açúcar para compensar as perdas. O segundo caso era também de uma menina de quatro anos, mas o problema era o oposto. Há quatro dias que não tinha dejecções e o abdómen já estava a ficar distendido. A causa eram algumas sementes de cacau que tinha engolido inteiras e, por não serem digeridas, estavam agora a provocar dor quando tentava ir à casa de banho, de maneira que a menina se defendia da dor não fazendo as suas necessidades. Como não temos emolientes (substâncias amolecedoras) foi preciso improvisar. Fui ao armazém da AMI procurar uma pomada anestésica (que o hospital não tinha), mas apenas consegui encontrar um anestésico em gotas oftálmicas – teve de servir. Com a aplicação do anestésico local e de um clister esperávamos resolver o problema. Entretanto regressou o Dr. Stepan, que me ajudou com as últimas consultas.
Passei a tarde a fazer halterofilismo com caixotes de medicamentos no armazém da AMI. Agora que temos mais algum espaço (fruto da distribuição de bens à população) é possível inventariar o material médico, tarefa que iniciei hoje. Andava a queixar-me da falta de exercício físico, mas hoje tive a minha conta.
À noite fui ao hospital para ver os doentes que tinham ficado pendentes da manhã. A senhora da dor abdominal continuava com dores e defesa à palpação. A medicação com anti-ácidos tinha aliviado um pouco a dor, mas não muito. Encontrei na reserva de medicamentos do consultório da AMI uma embalagem de patoprazole, um fármaco bem mais potente para tratar a possível úlcera péptica que os anti-ácidos. Esta reserva contém alguns medicamentos que são doados à AMI, muitas vezes por turistas estrangeiros que estão de passagem. Normalmente encontramos lá alguns princípios activos que não temos à disposição através da farmácia do hospital, como foi o caso. Apesar desta boa notícia, não fico totalmente descansado. O esclarecimento diagnóstico da dor abdominal é um dos diagnósticos diferenciais mais complicados em medicina e sem exames complementares para nos ajudar ainda se torna mais difícil. Não sei se esta senhora não terá algo mais grave, nomeadamente uma doença que obrigue a intervenção cirúrgica. Se amanhã de manhã não estiver melhor talvez tenhamos de a evacuar para a capital. A menina das sementes de cacau já tinha ido para casa, o nosso tratamento artesanal tinha resultado em pleno. A outra criança com uma gastroenterite também estava bem melhor, já sem vómitos nem diarreia; foi fazer o resto do tratamento para casa. A enfermeira pediu-me ainda para ver outro doente: um homem de quarenta e um anos com dor no peito. A descrição da dor fazia pensar numa causa cardíaca, mas era um homem novo, desportista, magro e sem mais nenhum factor de risco, o que apontava em sentido contrário. Contava também que tinha habitualmente problemas de estômago, o que poderia explicar a origem da dor. Gostaria de lhe ter feito pelo menos um electrocardiograma, mas nem isso temos. Mediquei-o para um eventual problema de acidez gástrica aumentada, mas recomendei-lhe que fosse à capital fazer um electrocardiograma.

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